Foto: Doug Mills/The New York Times

Por Dyogo Teofilo 

Volodymyr Zelensky está ficando sem opções. Donald Trump suspendeu US$ 1,61 bilhão em ajuda militar à Ucrânia, e o impacto já é sentido no front. Sem munição, sem sistemas avançados de defesa e com um Ocidente dividido, Zelensky precisou fazer algo que evitou desde o início da guerra: propor uma trégua parcial com Vladimir Putin.

Parece contraditório? Sim. Mas é um movimento que mostra o tamanho do aperto em que a Ucrânia se encontra. Essa trégua, na prática, significa suspender ataques aéreos e marítimos, além de uma possível troca de prisioneiros. Para um presidente que sempre bateu no peito dizendo que “não há negociação com a Rússia enquanto houver soldados inimigos em território ucraniano”, essa mudança de tom diz muito.

O problema é que essa decisão não veio porque Zelensky quis. Veio porque Trump quis.

Trump joga xadrez, Zelensky reage

Trump nunca escondeu que considera a guerra na Ucrânia um “problema europeu”. Para ele, os EUA não devem gastar bilhões em um conflito que, em sua visão, poderia ser resolvido com um “acordo de cavalheiros” entre Zelensky e Putin. O problema? Esse acordo pode significar a Ucrânia aceitando a perda de territórios ocupados pela Rússia, algo que, até então, era impensável para Kiev.

Mas o tempo está contra Zelensky. O inverno foi brutal, a economia ucraniana está em frangalhos e a paciência de seus aliados ocidentais começa a se esgotar. O Reino Unido e a França, com Keir Starmer e Emmanuel Macron na liderança, tentam criar um bloco de apoio para segurar as pontas, mas a verdade é que sem os EUA o esforço europeu é quase simbólico.

E Putin sabe disso.

O grande beneficiado? Putin

Se há alguém que pode sorrir com essa situação, é Vladimir Putin. O presidente russo vem jogando o jogo da paciência desde o início, esperando a fragilidade ocidental aparecer. E agora, com os EUA pisando no freio e a Ucrânia propondo tréguas, a balança começa a pender para Moscou.

Se essa trégua realmente acontecer, Putin sairá fortalecido, pois não será ele quem pediu a pausa. Será um movimento de Zelensky, o que automaticamente coloca a Ucrânia na posição de quem precisa mais de um acordo.

A suspensão da ajuda militar americana não só enfraquece Kiev no campo de batalha, mas também no campo político. Para Trump, é uma estratégia de pressão. Para Zelensky, um xeque. Para Putin, um avanço silencioso rumo ao xeque-mate.

A grande questão agora é: até onde Zelensky pode recuar antes que a Ucrânia perca não só territórios, mas também a confiança de seu próprio povo?