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| Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP |
Quando o Papa Francisco assumiu o pontificado, muitos católicos respiraram aliviados, acreditando que a Igreja Católica finalmente estava pronta para se atualizar, abraçar o futuro e, quem sabe, corrigir velhos erros. O estilo simples, o foco nos pobres e a sensibilidade para questões sociais pareceram promissores. Mas, aqui estamos, quase uma década depois, e a imagem de Francisco não é mais vista como uma onda de renovação, mas sim como um campo de batalha ideológico dentro da própria Igreja.
O problema, meus caros, é que Francisco tem sido uma figura profundamente divisiva. Para uns, ele é o Papa da misericórdia, da inclusão, aquele que olha para os pobres e marginalizados. Para outros, ele é o Papa que abandonou a tradição, uma espécie de “modernista” que está mais preocupado com questões como mudanças climáticas e a “justiça social” do que com a doutrina imutável da Igreja.
Vamos falar sobre isso. O Papa, claro, tem se mostrado mais aberto em questões como o casamento e o divórcio, algo que, para muitos católicos conservadores, é quase heresia. "Amoris Laetitia", por exemplo, foi um soco no estômago para a Igreja tradicional, sugerindo que divorciados recasados poderiam, eventualmente, ser acolhidos na comunidade. A reação não foi exatamente calorosa. Afinal, como explicar a um fiel que passou a vida toda acreditando em uma doutrina imutável que agora a Igreja sugere flexibilizar suas próprias regras? Para muitos, é um sinal claro de que a "rocha" da doutrina está se tornando areia.
E não para por aí. Sua postura sobre o celibato sacerdotal e a ordenação das mulheres também gerou um turbilhão. Claro, ele tem falado sobre o papel das mulheres na Igreja, mas a realidade é que nada de substancial aconteceu em relação à ordenação delas. E isso deixou muitos católicos que esperavam um "novo" papel para as mulheres na Igreja desiludidos. A abertura foi dada, mas sem mudanças concretas. Fica aquele gosto amargo de promessas vazias.
Mas o que realmente me faz questionar essa constante batalha entre progressistas e conservadores dentro da Igreja é a frustração de ver Francisco ser criticado por todo lado. De um lado, ele é acusado de ser um "moderado demais", que não confronta de frente o escândalo dos abusos sexuais dentro da Igreja. Por outro, ele é atacado por ser ousado demais, por sugerir que a Igreja precisa se adaptar ao tempo moderno. Quando ele fala sobre questões sociais, como pobreza, imigração e meio ambiente, para muitos católicos tradicionais, ele está se afastando do evangelho. A Igreja, em sua visão, deveria se preocupar apenas com a salvação da alma, não com mudanças no clima ou a política internacional.
Agora, é claro que Francisco tem um grande mérito em manter o foco no que é realmente importante para os católicos mais humildes e necessitados. Mas não podemos fechar os olhos para o fato de que, no processo, ele acabou alienando uma boa parte de sua própria base de fiéis. Aqueles que, por décadas, confiaram na figura do Papa como um guardião intransigente da doutrina católica veem Francisco, cada vez mais, como alguém que está mais interessado em agradar ao mundo do que proteger os ensinamentos da Igreja.
Aqui está o dilema. Para muitos, Francisco não é um Papa fraco ou ausente, mas um líder que faz escolhas difíceis, nem sempre populares, mas necessárias. Para outros, ele é o rosto de uma Igreja que não consegue mais se entender consigo mesma, tentando conciliar a modernidade com a tradição sem realmente fazer as pazes entre essas duas dimensões.
Em um mundo onde tudo está sendo questionado – desde as crenças mais profundas até a própria autoridade religiosa – Francisco, como Papa, é visto, por alguns, como um herói que tenta navegar em um oceano revolto. Mas, para outros, ele é uma espécie de capitão que perdeu o leme, à deriva entre as expectativas de uma Igreja que não consegue mais decidir o que quer ser.
O que me intriga, no fim das contas, é o fato de que, com tudo o que Francisco tem feito, a Igreja continua em crise. Não importa o quanto ele tente apaziguar as tensões, o que vemos é uma Igreja dividida, um pontificado que parece sempre caminhar sobre uma linha tênue entre o tradicionalismo e o modernismo. E, se é que ele pode ser julgado agora, talvez a verdadeira questão seja: será que ele, de fato, conseguiu fazer a Igreja avançar, ou apenas a trouxe para um futuro cheio de incertezas e divisões?
No final, o Papa Francisco é uma figura polêmica. Aparentemente, ele não está nem aí para agradar a todos. E, em tempos tão polarizados, talvez seja essa a única coisa que ele esteja fazendo certo.
Dyogo Teofilo - O Intelectual Brasil

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